Capítulo 5
- Lizzybuzz
- 14 de jan. de 2017
- 13 min de leitura

Pov – Nick
Não posso e não quero ficar assim todo envolvido, que coisa mais sem noção, não sou como os outros. É só me comportar como o velho Nick de sempre e tudo fica bem. Simples assim.
─Bom dia. – Simon invade minha sala e desvio os olhos da tela do computador. – Agenda pronta. Quer dar uma olhada?
─Pode ser. – Me arrumo na cadeira e ele me mostra a tela do tablet. – Viaja na próxima semana. Domingo que vem tem o jogo dos Jets, sei que não vai perder de jeito nenhum.
─Nunca. É claro que vamos.
─Certo, essa semana trabalhamos na papelada que vai levar, domingo vai ao jogo, segunda fecha suas atividades na associação, viaja na terça para Palermo, toma cuidado com a máfia.
─Isso é com o Ulisses. Os caras estão presos.
─Fica uma semana, depois direto para Turquia.
─Mais uma semana. – Resmungo olhando a planilha. – Tudo isso de reunião?
─Fazer o que? Depois de lá vai estar mais perto e segue para Kirus, separei a semana toda para eles como me pediu.
─Certo. Três semanas fora.
─O que significa que vamos trabalhar dobrado essa semana para dar conta de preparar tudo.
─Ok.
─O que vai fazer esse fim de semana?
─Trabalhar eu acho.
─Vou ver minha família. Não vou estar aqui. Pode viver sem mim? – Simon diz de modo tranquilo.
─Pode apostar. Vamos sair hoje à noite? Um bar quem sabe?
─Finalmente! Boa ideia. Eu ia de qualquer modo.
─Ótimo agora tenho que trabalhar.
─Tem uma reunião depois do almoço.
O dia corre longo e não pensar em Annie é bem trabalhoso, pego o telefone meia dúzia de vezes para ligar na associação e saber se foi mesmo, devolvo na mesa sem ligar todas elas. Não quero saber. Não quero pensar. Não consigo evitar.
─Pronto? – Simon surge mais uma vez, ergo o olhar. – Você ainda vai acabar doente de tanto trabalho, já desistiu?
─Não, só me esqueci. Que horas são?
─Oito e meia. Já fui até meu apartamento e me arrumei um pouco para competir com você.
Acabo por rir, eu nunca teria notado, está de terno como sempre. Desligo o computador e pego minha pasta.
─Onde vamos? Veio de carro?
─Vim e não vou te dar carona, depois sai com uma mulher e me larga lá. Quantas vezes já fez isso?
─Você parece uma garota reclamona! – Aperto o botão do elevador. – Também já fez isso.
─Eu sei. Me segue com seu carro. Tomei a liberdade de marcar com umas amigas.
─Boa ideia. – É isso mesmo que preciso, assim tiro ela e o passado da cabeça.
─Boa ideia? Está doente? Nick você anda muito esquisito essa semana.
Finjo não ouvir, com Simon é sempre um bom método. Dirijo atrás dele pelas ruas de Nova York e chegamos a um bar elegante, ele adora isso, se estivesse com meus irmãos nos sentaríamos num bar simples com pouco barulho e cerveja gelada.
Simon escolhe uma mesa para ser visto, ele sempre me diverte com esse jeito de ser. A garçonete se aproxima sorrindo.
─Queremos Uísques.
─Ele quer, para mim água. – Olho para Simon. – Veio dirigindo, não devia beber.
─É isso moça, um uísque e uma água. – A garçonete se afasta. – Você me envergonha as vezes. Vai ficar bebendo água?
─Quero chegar vivo em casa, se morrer meus irmãos me matam.
─Eu sei, tira esse nó da gravata ao menos. – Ele tenta desfazer o nó da minha gravata empurro sua mão.
─Tira a mão de mim. Parece minha mãe, cuida da sua vida. Já me arrependi.
─Não pode ir embora antes das garotas chegarem se não elas vão achar que menti e não trouxe nenhum milionário.
─Você não tem amigas que gostem de você pelo que é e não pelos amigos que tem?
─Tenho Nick, mas elas são feias.
─Nossa isso foi ridículo. – Simon não tem nada de útil na cabeça.
A garçonete volta. Agradeço e ela se retira, tem gente andando de um lado para outro, mesas com amigos rindo e bebendo e me sinto fora do lugar. Tomo um gole de água.
─Aquela não é a Samantha? – Simon me pergunta e sigo seu olhar.
─É.
─Cada dia mais bonita. Sabia que eu a vi na capa de uma revista? E você deixou ela ir.
─Ela é legal Simon, só que quer compromisso e eu não, foi bom.
─Saiu três vezes com ela, nem isso. Não sabe se foi bom. As garotas estão vindo.
Ele olha para porta e quatro garotas entram, claro que ele iria convidar um time delas. Simon é muito sem noção.
─Seja legal. – Elas se aproximam, e tem aquele momento chato de apresentações. – Essas são, Amanda, Emma, Cindy, e acho que não sei seu nome. – Simon pergunta a quarta mulher que eu cumprimentava sem qualquer ânimo.
─Jane.
─Jane. Sentem. O que querem beber? – Ele pergunta e lá está a garçonete anotando pedidos, faço um esforço gigante para prestar atenção na conversa. Começa com moda, os melhores bares da cidade, viagens, gastronomia, e então chega em quem está solteira e a quanto tempo.
Me distraio da conversa, começo a olhar seus rostos sem ouvir muito o que dizem, acho que usam maquiagem demais, e saltos muito altos, e muitas joias, e parecem tão montadas que fico imaginando se essas garotas se lembram quem são.
Penso em Annie. Sorrio quando imagino que está descalça, com sua pouca roupa e os cabelos soltos, sorrindo por que cozinha muito mal e me perguntando se dessa vez está demitida.
Onze da noite confiro no celular, pode ser que tenha ido dormir, e pode ter outro pesadelo, talvez acorde bem assustada por estar sozinha. Eu podia ir para casa. Não que não queira me divertir, mas eu posso sair outro dia. Posso sair sempre que quiser.
─É o único que não gosta de dançar? – Sinto uma mão tocar meu braço e estou sozinho com uma delas na mesa, não tenho a menor ideia de qual delas, não gravei os nomes.
─Eu... – Olho em volta, Simon dança com uma das suas amigas, as outras sumiram. – Não definitivamente não gosto de dançar. – A menos que seja para perturbar Ulisses, me lembro dele com ciúme de Sophi. Foi um ótimo dia aquele.
─Uma pena! – Ela se aproxima mais de mim. – Podemos conversar apenas.
─Podemos. Se bem que a música está bem alta agora.
─Quem sabe não podemos ir para um lugar mais calmo?
─Acho que... – Ela é bonita Nick. Admita. – Não vai dar, não quero deixar meu amigo sozinho.
Olhamos os dois na direção de Simon e lá está ele atracado com a garota aos beijos. Olho para a mulher ao meu lado e sorrio sem graça.
─Acho que ele não está mais sozinho. Jane está com ele.
Ao menos eu já sei que ela não é a Jane. Se for por eliminação em umas horas eu descubro seu nome. Não tenho umas horas, não quero ter. Olho mais uma vez a tela do celular. Meia noite.
─Desculpe. Eu tenho que ir. Sinto muito, amanhã tenho um compromisso muito cedo.
Fico de pé. Ela fica surpresa, nem responde, nem poderia eu não espero por resposta, só me apresso para sair dali, não tenho ideia de como vou parar isso, mas sinto urgência em voltar para casa e simplesmente não luto mais.
─Ei. Onde vai? Deixou a Cindy na mesa.
─Simon eu... Isso está meio chato e preciso... Até segunda-feira Simon. – Deixo o local o mais rápido que posso. Me sinto idiota por ter saído, idiota por ter entrado, um idiota de modo geral.
Quando dirijo para casa me sinto melhor, estranhamente melhor. Quando a porta do elevador se abre a primeira coisa que vejo é Annie dormindo no sofá abraçada com um livro.
Fico olhando para sua beleza natural enquanto desfaço o nó da gravata e tiro o paletó. Ela parece uma boneca, tenho pena de acorda-la, está num sono profundo. É bonita. Muito mais bonita do que seria seguro. Nem sei se tem alguma segurança ainda.
O sono se agita. Ela se remexe um pouco, fico indeciso se a acordo ou não.
─Não. Por favor. – Ela resmunga quando tenta afastar algo ou alguém com a mão e o livro cai no chão. Me abaixo para ficar perto dela, os traços são delicados. Toco seu ombro.
─Annie. – No primeiro toque ela salta se encolhendo no sofá. Me vê e sinto o medo dar lugar a seu alivio. Então ela olha em volta.
─Já chegou? – Ela passa a mão pelo cabelo. – Óbvio que sim.
─Às vezes acho que não sou bem-vindo. – Brinco e ela revira os olhos.
─Só me ignore. Dormi no seu sofá. Isso é muito ruim?
─Depende. É confortável?
─Melhor que o da Trace.
─De quem? –Pergunto me sentando a seu lado.
─Nada demais. Eu sinto muito pelo sofá. Fiquei sozinha e nunca tinha ficado sozinha aqui a noite, me deu um pouco de medo, daí vim me deitar aqui para ler. Eu sei que não devia, não pretendia dormir. Já pensou se chega com alguém e estou dormindo aqui?
─Não chegaria com ninguém. Nunca chego com ninguém, não aqui.
─Está com fome? – Ela me pergunta prendendo os cabelos com um elástico.
─Me viro, não se preocupe.
─Eu estou, não jantei, quer um sanduiche de tudo que tem na geladeira?
─Pode ser. Eu te ajudo.
Sigo com ela para cozinha. Estou muito mais feliz que estava antes. Isso me consola. Não é nada demais. Só uma garota legal.
─Esse livro que estou lendo é tão chato. Sempre durmo.
─Pode pegar o que quiser no escritório. – Ela abre a geladeira. Pego pão, ela alguns potes e pratos, sirvo suco para os dois enquanto ela vai colocando coisas dentro do pão. – Olha esse molho de queijo, coloca um pouco.
Ela pega da minha mão. Joga sobre um monte de coisas que tentavam se equilibrar sobre o pão.
─Gosta?
─Do molho? – Ela afirma. – Adoro.
─Eu devia ter colocado naquele frango sem gosto, vou colocar em tudo agora, assim vai achar tudo bom. Cozinho muito mal. – Annie me encara. – É agora que me demite?
─Não. Agora vamos comer aqui no balcão. – Nos sentamos lado a lado nos bancos altos do balcão. – Aqui é bom. Por que serve meu café na sala de jantar?
─A senhora kalais que mandou, oito em ponto na sala de jantar.
─Vamos comer aqui agora, pelo menos de manhã. Vou viajar. – Aviso e ela para com o sanduiche no meio do caminho, devolve no prato. – Três semanas.
─Sei. Trabalho?
─É. Depois ver minha família.
─Eu fico aqui?
─Sim.
─Quando? – Ela parece bem desanimada com a notícia e eu não devia achar isso tão bom quanto estou achando.
─Daqui uma semana. Não essa terça a outra. – Ela suspira e da mais uma mordida no sanduiche. – Esse ficou melhor que o outro, foi meu molho de queijo.
─Vou ter que concordar. – Annie, morde mais um pedaço. Mastiga olhando para o nada. – Três semanas é um tempão.
─Eu sei. ─ Continuamos a comer em silencio. Depois ela me olha, toma um gole de suco.
─Passei o dia no abrigo. É muito bonito.
─O dia todo? O que achou? O que fez? Quando volta? – Até eu fico surpreso com meu entusiasmo, imagino ela, mas ninguém nunca vai, nem meus irmãos, nem Simon, as pessoas acham legal e muito emocionante e depois seguem suas vidas.
─Conheci tudo, Naomi me apresentou, depois fiquei com os velhinhos. Agora vou ficar com eles o dia todo, todos os dias de segunda a sexta. São cinco. Tem uma senhora de noventa e cinco anos, Ava. Ela é linda...
─Conheço eles Annie, todos eles.
─Verdade.
─É difícil encontrar voluntários para eles.
─A gente conversou e leu e outras coisas, nem vi o tempo passar. O senhor Fernandez me pediu em casamento, mas eu recusei, Ava ficou com ciúme.
─Ele sempre faz isso.
─E eu que estava me achando especial. – Ela brinca. Não quero sair dali, quero ficar com ela o resto da noite.
─Talvez dessa vez tenha sido sério.
─Pode ser. Quando estiver fora vou passar mais tempo lá. Assim não fico sozinha. Glória tem família. – Ela me conta e sei disso, mas deixo que fale. – Mesmo assim vive sozinha lá, ninguém vai visita-la. Ela é diabética, as pessoas acham que dá trabalho. ─ Vejo sua tristeza. Uma tristeza bonita. Vinda da mais pura empatia e nesse mundo isso é tão difícil. ─Fez um bom trabalho lá, as pessoas gostam de você. Admiram.
─Não faço nada demais, eles fazem mais por mim do que eu por eles. – Isso é a mais pura verdade, me sinto útil, me sinto salvando um pouco do garoto que não foi salvo quando era pequeno, retribuo a sorte que tive. Divido um pouco. – Não se preocupe com nada amanhã, quero dormir um pouco mais e depois vou só trabalhar em casa.
─Está certo.
Deixamos o balcão, se pudesse a convidaria para ficar um pouco mais conversando na sala.
─Boa noite Nick.
─Boa noite.
Não é nada fácil dormir, fico pensando nela, imaginando Annie com os idosos da associação. E desejando que a senhora Kalais nunca mais queira voltar ao trabalho.
No meio da noite acordo num sobressalto, um sono confuso e preocupado e penso se não é por que Annie está lá em baixo. Tento ouvir se está dormindo ou gritando. Será que dá para ouvir daqui? E se não der? Ela vai ficar agonizando até acordar sozinha? E quando eu viajar?
─O que você tem com isso?
Escuto um barulho na cozinha e desço apressado. Quando chego Annie está varrendo cacos.
─Tudo bem?
─Sim. Eu vim beber água e...
─Se machucou?
─Não. Te acordei com meus gritos? Eu devia por uma mordaça para dormir.
─De novo? Isso está errado, precisa descobrir por que está tendo tantos pesadelos.
─É eu sei, eu... Desculpe. ― Annie recolhe apressada os cacos. ― Boa noite. – Ela se esquiva claramente e sei que sabe muito bem porque tem pesadelos, mas se não gosto de falar do meu passado não posso reclamar com ela de não falar do dela.
Nos separarmos mais uma vez. Acordo depois das dez, isso é bem raro. A primeira coisa que faço é olhar o celular, mensagens dos Stefanos e de Simon. Leio algumas e ignoro outras, depois ligo para todos.
Quando chego na cozinha, Annie está folheando livros de receitas.
─Bom dia.
─Bom dia. As coisas estão sobre o balcão. Já tomei café, acordei cedo.
─Dormiu?
─Uhum. – Ela mente muito mal. – Gosta de peixe?
─Gosto. Não tem nada que eu odeie.
─Tá. Hoje vou fazer massa, quer dizer, vou tentar.
─Isso sim eu gosto. – Mastigo uma torrada e tomo um gole de café. Uso bermuda e camiseta, além do tênis de corrida.
─Vai malhar?
─Não, dia de folga.
─Eu já corri.
─Você toma cuidado? Aquele lugar não é tão seguro quanto parece.
─Eu sei. Mas fico atenta. Devia vir comigo um dia.
─Pode ser. Vou trabalhar.
Me envolvo no trabalho, almoçamos juntos, a comida é péssima e me faz rir mais que qualquer outra coisa, prometo uma pizza para o jantar. Volto para o trabalho, de noite a encontro sentada no chão da sala olhando pela parede de vidro a cidade.
─Está cheio de gente de um lado para outro. Noite de sábado.
─Sim. Quer descer? – O que eu estou fazendo? – Quem sabe tomar alguma coisa?
─Quero. Pode ser sorvete? Está calor.
─Pode. – Ela calça chinelos e só. Me olha sorrindo.
─Estou pronta. – E eu já estava pensando em me vestir, mas a garota está com aquelas roupinhas curtas e de chinelo, me vejo na obrigação de sair de bermuda e tênis.
─Então vamos. – Entramos no elevador.
─Eu devia ter ido pelo de serviço.
─Seria bem esquisito e tolo.
─Tudo bem. ― Ela da de ombros concordando.
─Posso ser amiga de uma moradora? Não vai achar estranho?
─Que ideia? Claro que não. – A porta se abre e deixamos o prédio. – Quem?
─Sarah e o seu cachorrinho Bob. Ele é muito fofo.
─Vamos logo jantar. Pizza?
─Como o combinado.
Comemos numa pequena lanchonete, simples e muito lotada, Annie adora, ainda saímos pela rua tomando sorvete e não faço isso desde... desde... Nunca fiz.
Gosto, me sinto bem, falamos de tudo, livros, filmes, politica, rimos também e eu não sei fazer muito isso sem ser com meus irmãos.
Subimos os degraus de volta em direção ao elevador. Acho que foi o dia que menos trabalhei na vida, o almoço demorado, passeios pela noite. O que afinal está acontecendo comigo?
─Então Lizzie é a sua preferida? – Annie pergunta depois de ouvir sobre os contratos.
─Não. Ela é a mais velha, só isso, tem mais dialogo.
Paramos no meio da sala. Um de frente para outro.
─Eu sei, vai trabalhar. Estou lá dentro se precisar, boa noite.
Ela me deixa e faço o que sei fazer, mergulho no trabalho, até não aguentar mais. Adianto coisas que não precisava lidar até voltar da viagem, só para não pensar nela, só para não correr atrás dela. Quando pretendia deitar, depois de apagar a luz e acender o abajur escuto um pedido de socorro, isso não tem o menor sentido.
Desço apressado, dessa vez pulo a parte que bato na porta sem resposta e entro de uma vez, toco Annie e ela senta. Agora os olhos estão marejados.
─Agora sim me demite, não é? – Ela seca as lagrimas, mas elas continuam a rolar e quando chora parece mais ainda minha gatinha e isso me deixa ali, olhando para ela imóvel. –Viu como é agora? Está mudo. – Ela me desperta. Nego primeiro com a cabeça voltando a realidade.
─Não. Você agora vai dormir lá em cima no quarto de hóspedes.
─Isso não tem o menor cabimento. – Ela diz quando me assiste puxar o lençol e pegar o travesseiro.
─O que não tem cabimento é você ficar gritando enquanto caminho cinco quilômetros do meu quarto até aqui.
─Mas daí não vai dormir mesmo.
─Vem logo Annie, assim eu te acordo mais rápido, vai ver fica com medo de ficar aqui em baixo sozinha e isolada. Amanhã transfere suas coisas.
Ela me obedece, será que sabe como fica sensual com essa camiseta dois números maior? Duvido. Isso é de algum modo uma tortura. Balanço a cabeça para evitar esse tipo de pensamento, não funciona.
Abro a porta do quarto de hóspedes que provavelmente nunca entrei, é bem ao lado do meu.
─Pronto, agora deixa a porta aberta e uma luz acesa, eu nunca durmo no escuro.
─Tem medo de escuro? – Ela me pergunta quando entrego o lençol e o travesseiro a ela na frente da cama.
─Tenho. Boa noite. Eu te acordo se gritar.
Ela não grita mais, talvez funcione. O domingo é quase igual ao sábado, tenho que me obrigar a deixa-la e trabalhar ou passaria o dia com ela.
─Dormiu? – Pergunto na segunda-feira quando tomamos café no balcão da cozinha.
─Uhum. – Ela desvia os olhos, vou separar um tempo para pesquisar sobre distúrbios do sono. – Vou ficar na associação o dia todo, mas eu chego para deixar o jantar pronto.
─Tudo bem, qualquer coisa pedimos comida.
Me arrasto para o elevador. Quando entro em minha sala Ulisses está lá com Simon.
─Chegou finalmente. - Apertamos as mãos.
─Sim. Obrigado por me cobrir aqui.
─Como está a Sophi?
─Bem, mais uns dias e tira o gesso.
─Como aconteceu?
─Foi na montanha. Houve um pequeno deslizamento de gelo, ela ficou pendurada e descobri que amo a Sophia.
─Achei que já soubesse disso.
─Não. É um outro tipo de amor, eu nem sei dizer, ela é meu ar. A ideia de perde-la, ver minha mulher ali. Odeio me lembrar.
─Ela está bem mesmo? Não está assustada?
─Não. Está rindo de mim, da minha cara de pavor enquanto ela tentava subir. Que absurdo. Mulher ingrata.
─Que bom que estão bem afinal. Como estão os outros todos?
─Todo mundo bem. Com saudade do caçula queridinho.
─Quando der eu vou.
─Sophia quer que vá jantar lá em casa hoje. Para ver as fotos da viagem.
─Não posso.
─Alguma reunião? O Simon não pode te substituir?
─Não, é que... – Encaro Ulisses com uma sobrancelha erguida. Ele tem aquela cara de cínico. Qualquer desculpa que invente vai deixa-lo cheio de ideias.
─Eu não posso. Minha mãe está aqui e por isso não posso substituir o Nick hoje. – Simon me socorre e essas coisas me lembram por que somos amigos.
─Então amanhã. Vou avisar ela. – Ulisses deixa a sala.
─Me deve mais essa. Lembre disso. – Simon também me deixa.
Viajar será uma ótima ideia. Se eu não fizer nenhuma tolice antes. O que parece cada vez mais difícil. Encaro minha mesa. Eu bem que podia dar um pulo na associação no fim da tarde e ver como Annie está indo com os idosos.
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