CAPÍTULO 2
- hendrica fernandes
- 28 de nov. de 2016
- 13 min de leitura

Pov – Annie
Um vento frio bate me fazendo estremecer e ergo a gola da jaqueta, dobro os joelhos me encolhendo um pouco, gosto desse lugar. A escada de incêndio do pequeno apartamento de Trace.
Não tenho mais ninguém além dela e se não estivesse na pior não estaria aqui de modo algum. Seu marido Ted me odeia com todas as suas forças, se não fosse a culpa que Trace carrega talvez não me recebesse.
Trace e minha mãe eram amigas de infância, minha mãe foi a primeira a casar e nasci no primeiro ano de casamento. Depois foi a vez de Trace se casar com Ted. Os dois não tiveram filhos e acho que a humanidade agradece. Um filho de Ted teria que carregar apenas os genes de Trace para ser aceitável.
O homem é intratável. Não é verdade admito constrangida, seu ódio é dirigido apenas a mim. Quando se casaram, Trace teve que se afastar da minha mãe e no fim ele estava certo. Quem quer ter amizade com um casal que o marido é nada além de um trapaceiro? John Keller era conhecido por seus pequenos golpes, era assim que sustentava a família e Ted afastou as velhas amigas.
Quando minha mãe morreu e ficamos apenas eu e meu pai Trace tentou ajudar. Me lembro de ser deixada em sua casa horas a fio enquanto meu pai saía para seu trabalho de enganar pessoas e limpar seus bolsos.
Eu tinha sete anos, amava meu pai, ele me amava. Eu sabia, mas não entendia seu trabalho, ouvia Ted esbravejar a cada vez que chegava do trabalho e me via encolhida em seu sofá assistindo desenho.
Como tinha medo dele, ainda tenho, no fundo mesmo todos esses anos depois eu ainda tenho e se tivesse qualquer outra opção não teria batido justo nessa porta, mas não tem mais nenhuma outra porta para mim.
Não tem nada para quem vem de onde eu vim. A estadia no inferno não me fez mais forte, só mais solitária.
Ted fez o que tinha que fazer ou obrigou Trace a fazer, entregaram meu pai, quando ele foi preso me levaram para ser cuidado pelos auxiliares do demônio e foi lá que cresci. Só uma vez Trace se atreveu a me visitar, eu tinha onze anos, um olho roxo e escoriações, ela não fez nada.
Quando saí me deu dinheiro. Trezentos dólares que meu pai deixou como herança antes de morrer de pneumonia na prisão. Eu tentei. Venho tentando desde então, um tempo aqui, outro em Los Angeles, garçonete, ajudante de cozinha, faxineira de motel, nunca dura muito e dessa vez eu não tive escolha.
As garotas com quem dividia apartamento há seis meses simplesmente me mandaram sair e sem dinheiro e emprego só Trace me receberia.
Olho uma garota passando de mãos dadas com um rapaz, os dois sorriem um para o outro ao atravessarem a rua, acho bonito, mas não para mim.
Annie Keller nunca vai ter essa chance. Quem ficaria com uma garota com meu passado? Filha de um trapaceiro e criada em um abrigo? Sem formação, emprego e família? Mas se isso não for o bastante para fazer qualquer um correr ainda tem todos os traumas, pesadelos, insônia, claustrofobia.
Respiro fundo afastando todos os pensamentos ruins. Não sou o tipo que se dobra e se rende a infelicidade, gosto de sorrir, de tentar, sou um tanto atrapalhada, com duas mãos esquerdas como Trace diz, e uma das razões para ter perdido pelo menos dois ou três empregos. Mesmo assim não desisto.
─Vai congelar aí fora Annie. – Trace surge na janela e me sorri. – Vem jantar, o Ted está chegando.
─É tarde, ele está bem atrasado. – Comento quando passo para dentro.
─O porteiro da noite teve um contratempo, ele ficou substituindo o homem, mas já está chegando.
─Eu coloco os pratos. – Me ofereço e ela aceita. – Não vou quebrar nada.
Depois de arrumar a mesa me sinto angustiada. Jantar mais um dia com Ted. Odeio estar ali, incomodando Trace, sei que ela fica constrangida e tentando o tempo todo colocar panos quentes.
─Trace! – A voz grave de Ted soa assim que ele abre a porta, Respiro fundo.
─Que bom que você chegou. ─ Trace abraça Ted, ele não se dá ao trabalho de corresponder.
O homem me olha sem nenhum sinal de qualquer coisa que não seja repulsa. Não queria, mas entendo, foi ele que conviveu com a culpa que Trace carregou todos esses anos pelo que me aconteceu e acha que eu sou a única culpada.
─Consegui um emprego para você já que não é capaz de fazer isso sozinha. – Ele diz de modo direto.
─Querido, que noticia ótima! – Só Trace comemora, eu sempre fico nervosa diante dele e me calo.
─Vai trabalhar de governanta na casa de um milionário lá no prédio onde trabalho.
Ele disse governanta? Na casa de um milionário? Fico muda. Nem sei o que dizer. Não tenho a menor ideia do que uma governanta faz a não ser cara de brava em filmes.
─É temporário, mas com o salário vai poder ajeitar sua vida. Espero que não me crie problemas.
─Eles sabem que não tenho experiência?
─A senhora Kalais vai treinar você. São dois meses, ela me garantiu que o trabalho é fácil e o homem é sozinho.
─Sozinho? ─Trabalhar para um homem sozinho me assusta um pouco.
─Não me venha com ataques. Vai ter um bom salário, casa e comida, não reclame.
─Casa? Disse casa? Vou morar lá?
─Vai. Amanhã saímos bem cedo, já vai levar suas coisas, a mulher parte em dois dias e quer ensinar o serviço antes. – Ele esbraveja.
─Será uma boa oportunidade. Tenho certeza que vai se dar muito bem. – Trace tenta amenizar.
─Eu vou Trace, não se preocupe. – Aviso sabendo que ela está angustiada.
─Claro que vai. Acha que vai ficar mais tempo aqui? Que tenho alguma obrigação com você?
─Ted não faça isso, as coisas deram errado para ela por minha culpa. Eu devia ter cuidado dela quando a mãe morreu, não podia ter denunciado ele e depois que ele morreu eu podia...
─Trace está tudo bem. – Acalmo ela, ou tento, ela chora.
─Vê o que faz com ela? Toda vez que está aqui ela fica assim. Vou tomar um banho e jantar no quarto.
Ted se retira. Encaro Trace, ele tem razão. Minha presença esfrega o passado em sua cara e a faz sofrer.
─Você não tem culpa de nada, estou bem, vou gostar do trabalho tenho certeza, se odiar só tenho que aguentar dois meses. Posso viver com um velho milionário por dois meses.
─Tudo bem. Vamos comer, por favor não diga que não está com fome. Depois arrumo o sofá e tenta dormir.
Janto com Trace, tentamos conversar, mas no fundo não temos muito assunto. Depois ela estica um lençol no sofá, me abraça e fico sozinha. Acendo um abajur de canto, arrumo minha mala. Tudo que tenho está ali.
Não é muito, apenas roupas, calças e shorts jeans, umas blusinhas simples, tênis. Passei o último ano em Los Angeles, as roupas são simples. O que não é simples em mim?
Dobro minha camiseta dos Jets, beijo o brasão do meu time querido.
─Logo vamos estar no estádio, sei que está com saudade. – Enfio na mala a minha peça preferida e companheira de jogos. Nada se compara a emoção de estar no estádio em dia de jogo do New York Jets. O melhor time de futebol do mundo.
Me encolho no sofá, os olhos abertos como se fosse meio dia, noite de insônia, melhor não dormir que acordar gritando no meio de um pesadelo e Ted ficar mais uma vez furioso.
Me acostumei com a lentidão das horas noturnas, não gosto delas, não gosto dela desde sempre. No inferno as noites eram sempre piores, as coisas que aconteciam, os barulhos. Um arrepio percorre meu corpo.
Ted surge na sala quando o dia amanhece, me vê sentada e enrolada nas cobertas e faz aquela cara de desprezo de sempre.
─Fique pronta, vamos sair em uma hora, coloque uma roupa descente, esses seus shortinhos com essas blusinhas mostrando o ombro que adora usar não é roupa para se apresentar.
─Eu sei disso Ted.
Ele tem sorte, tenho uma única saia cinza e uma camiseta branca que devem servir, coloco uma sapatilha. Prendo os cabelos num rabo.
Trace me abraça quando arrasto minha mala para porta. Sinto pena de sua fraqueza, sinto pena da minha fraqueza.
─Estou aqui se precisar. Isso é sério. Tem que prometer que virá se precisar.
─Prometo. – É uma promessa vazia, por mim nunca mais pisaria nessa casa, quem sabe seja a última vez? Não custa sonhar. – Obrigada por me receber Trace. Vai ficar tudo bem.
Arrasto a mala atrás de Ted todo o caminho, atropelo meia dúzia de pessoas no metrô e mais umas duas ou três no caminho a pé até o edifício. Ted faz questão de andar rápido só para me irritar. A mala vai ficando cada vez mais pesada com o tempo.
─Ajuda a moça idiota! – Alguém grita de um ônibus e sorrio para cara feia dele.
─Idiota por que ele nem te conhece, imagina se conhecesse? – Não resisto, estamos no meio da rua, o que ele pode fazer além dessa cara de furioso de sempre.
O edifício é tão elegante que me dá um frio na barriga só de olhar a entrada. Ted está em seu uniforme de porteiro e sempre achei porteiros divertidos e falantes, ele acaba com todos os clichês.
─Pegue o elevador de serviço, a senhora Kalais vai estar a sua espera. Não faça tolices ou acabo por perder meu emprego, está aqui por que ela tem pressa e precisa de alguém de confiança.
─Eu sou de confiança. – Aviso apertando o botão para chamar o elevador.
─Nesse ponto sou obrigado a admitir que não puxou aquele safado. Por isso arrisquei, não estrague tudo.
A porta do elevador se abre e entro, Ted fica me olhando enquanto a porta fecha e quase posso tocar em seu arrependimento.
O elevador sobe ao topo do edifício, estou nervosa e respiro fundo. A porta se abre num hall elegante, uma porta está aberta e uma mulher surge quando desço e a porta do elevador se fecha atrás de mim.
─Bom dia. – Sorrio.
─Isso não vai nada bem. Nada bem. – Ela balança a cabeça quando me encara. – Bonita demais, jovem demais.
─Beleza é questão de gosto. Ele pode me achar um dragão. – Tento defender o emprego que parece que perdi mais uma vez. – Vai me demitir antes mesmo de me contratar?
─Não posso, realmente não posso. – Ela faz sinal para que me aproxime. Arrasto a mala por uma cozinha elegante e gigantesca. Gosto do balcão que divide a área de trabalho entre a pia e eletrodomésticos e a mesa de seis lugares.
─Sou Annie Keller.
─Bem-vinda menina. Vou te mostrar a casa e seu trabalho.
─Obrigada.
─Vamos começar por seu quarto, assim deixa essa mala. – Eu a acompanho por outra porta, saímos numa sala pequena com duas portas. – Essa é a área dos empregados, essa e sua sala, com tevê e tudo que precisa para seu tempo livre, esse é meu quarto e aquele o seu. Deixe a mala lá.
Entro e é uma boa suíte, muito melhor que pensei, confortável e bem arrumada.
─O senhor Nickolas Stefanos se preocupa muito com o bem-estar dos funcionários. Vou te dar um tempinho para arrumar suas coisas, te espero na cozinha.
─Nickolas Stefanos? Nome diferente né?
─Ele é grego, como eu. –Ela sai fechando a porta atrás de mim.
Me lembra ele. Eu conheci um grego, era assim que todos chamavam ele, não me lembro se alguma vez disse seu nome e de qualquer modo não faz diferença, meu príncipe nunca estaria vivendo numa casa como essa, crescemos num abrigo para crianças abandonadas.
A melhor pessoa que já conheci, corajoso, inteligente, o rosto fica um pouco nebuloso, me lembro do olhar cansado do rosto muito magro, da tristeza que sempre nos acompanhava. De como ficamos amigos.
Eu estava tão apavorada e sozinha, quando quebrei aquela louça e a bruxa me encarou cheia de ódio achei que ia me matar, mas ele assumiu a culpa, nunca tínhamos nos falado, mas ele disse que tinha sido ele e acabou na disciplina no meu lugar.
Me sento na cama tentando lembrar se algumas vez ouvi seu nome, acho que não, era só, grego. Fui corajosa e cuspi num segurança só para ser atirada lá com ele e levar agua e um pedaço de pão.
Como senti medo daquele lugar. Se ele não estivesse lá eu teria feito uma loucura. E assim nasceu a única coisa boa que levo do passado, a amizade mais pura que existiu.
Até que um dia ele passou por mim carregando sua mochila, me mandou ser forte e nunca mais voltou. Foi quando o inferno ganhou mais profundidade, fui tragada para o fundo do poço sem volta. Eu tinha onze anos. Foi a segunda vez que perdi tudo.
Vou ao encontro da mulher antes que fique com fama de preguiçosa. Ela parece um sargento do exército, me encara de pé com a mão na cintura.
─Pronto senhora Kalais.
─Ótimo. Vamos lá. Essa é a cozinha. Nessa gaveta fica guardado mil dólares, para usar no que precisar na casa, quando estiver acabando vai ligar nesse número. – Ela balança um papel. ─ E do Simon, assistente do senhor Stefanos, ele manda mais dinheiro.
─Mil dólares e acha que vai acabar?
─Pode ser. Venha. – Ela abre a porta para a parte social e fico chocada, é o maior apartamento que já vi na vida. Tão elegante e claro que assusta.
As paredes de vidro me encantam e caminho até elas, dá para ver boa parte da cidade. É lindo. O apartamento tem cara de revista de decoração, não dá para saber nada sobre quem mora nele. Tão impessoal como um showroom de loja de decoração. O velho não tem muita personalidade.
─É... grade e muito bonito.
─Sim. Foi decorado pela maior e mais famosa empresa do mundo. Cada peça aqui custa uma fortuna. Quando for mexer em algo tome cuidado para colocar de volta no mesmo lugar.
─Sim senhora.
─A casa quinze dias uma empresa de limpeza faz a faxina, você só precisa manter em ordem, mas o senhor Stefanos é muito organizado. Aquele é o escritório dele, quando estiver lá, onde ele passa boa parte do tempo, não o incomode de jeito nenhum.
O velho é chato e sem personalidade.
─Sim senhora.
─Aqui tem as salas, o escritório, aquela salinha é onde ele descansa e vê tevê, mas isso é raro. Vamos subir. – Subimos por uma escada de cinema e gosto dela. Em cima são muitas portas. – Esse é o quarto dele, depois que ele sai para o trabalho você vem e arruma, pega as roupas sujas e forra a cama, ajeita o banheiro, não terá quase nenhum trabalho. Uma lavanderia vem buscar as roupas toda segunda-feira e devolver na quarta-feira.
Metódico. Vamos ver, o velho é chato, metódico e sem personalidade.
─Sim senhora. – Repito mais uma vez.
─Os outros quartos ficam fechados, ele nunca recebe hospedes. – Subimos mais um lance de escadas. Tem a maior academia que já vi, uma piscina aquecida e uma varanda com jardim e bancos.
─Nossa! Isso é mesmo Nova York?
─Eu sei, é lindo. Ele malha todas as manhãs antes do trabalho, você sobe e organiza a academia. Vamos descer e vou te explicar como as coisas funcionam.
Voltamos para cozinha. Tudo é absurdamente grande e arrumado. Nos sentamos na sala dos empregados.
─Ele acorda cedo e vai malhar, você serve o café da manhã na sala de jantar as oito em ponto, depois ele sai para o trabalho, você arruma a academia, o quarto dele e o escritório, o resto ele nunca usa. Então fica livre. Deixe o jantar pronto e sirva sempre meia hora depois que ele chegar, não é sempre que ele vem para jantar. Então ele se fecha no escritório e não incomoda mais ele.
─Tá. Eu tenho que cozinhar? – Isso sim é um problema dos grandes que não vou dizer a ela.
─Sim. Tem muitos livros de receita, ele adora comida italiana, mas não costuma reclamar ou exigir nada. – Menos mal, vamos ver o que acha de comida queimada ou crua. – Se ele precisar de alguma roupa e for uma emergência temos uma lavanderia.
─Sei lavar. – Sorrio vitoriosa, não que pareça ser grande coisa ser capaz de apertar um botão de máquina de lavar.
─Nos fins de semana ele costuma trabalhar em casa ou viajar, sirva as refeições e o deixe em seu canto. Emergências fale com o assistente dele.
─Sim senhora. O que faço com meu tempo livre?
─O que quiser. Ele não vai querer saber, se tudo estiver em ordem ele não vai se importar. Tem folgas aos domingos, ele se vira na casa e você evita ficar por aí, o Senhor Stefanos não é obrigado a conviver com você.
Que homem chato. Cheio de frescuras. Me concentro em prestar atenção, o serviço parece fácil. Talvez eu consiga, a menos que a comida estrague tudo.
─O telefone quase nunca toca, as pessoas que importam ligam direto para o celular dele, mas de vez em quando uma mulher descobre o número e tenta a sorte. O senhor Stefanos não tem uma mulher fixa então as vezes uma ou outra descobre o telefone e se arrisca, nunca passe a ligação para ele.
Um velho babão que gosta de trocar de mulheres toda hora. Com tanto dinheiro não deve ser nada difícil encontrar companhia.
─Sim senhora. Quando ele vai me entrevistar?
─Não vai. Ele não tem tempo a perder com isso. Está contratada. Não vai conhece-lo hoje por que ele não vem jantar então deve chegar tarde.
─Amanhã de manhã?
─Ele vai sair muito cedo, tem um café marcado coisa do trabalho dele, então você mesma se apresenta a noite.
─Eu? Sem a senhora aqui? E se ele me odiar?
─Seja uma boa moça e ele não vai odiá-la, eu viajo amanhã à tarde.
─Certo.
─Agora ande por aí. Se familiarize com tudo. Vou arrumar minha mala. Boa sorte.
─Obrigada. – Fico de pé e deixo a sala de empregados, minha sala já que vou ser a única empregada.
Nada de fotos pela casa, nada que conte um pouco sobre ele, não entro no quarto e nem no escritório, a mulher fez tantas recomendações que é melhor não me arriscar.
Janto com ela, vez por outra ela se lembra de mais alguma recomendação, vou para meu quarto, deito e no meio da noite acordo com um sobressalto, fico esperando alguma reação, silencio, acho que dessa vez não gritei, fico grata.
Depois me sento, não quero dormir e sonhar, não quero acordar gritando e perder o emprego antes mesmo de começar. A senhora Kalais deixa o jantar pronto, agradeço mentalmente não ter que cozinhar no meu primeiro dia.
Fico pensando como será esse homem, não pode ser jovem, tem muito dinheiro para um jovem e é muito solitário também. Será que teve filhos? Se teve foi um péssimo pai e eles o abandonaram.
Quando a senhora caminha para a porta com sua mala meu coração acelera de medo, e se além de velho babão ele for um psicopata, engulo em seco quando ela se despede de modo formal.
Fico sozinha de pé no meio da cozinha as duas da tarde. Mordo o lábio pensando no que fazer até o homem chegar. Tomo banho, visto meu short jeans, uma camiseta, deixo o cabelo solto e coloco sobre a cama uma muda de roupa mais apresentável para vestir quando ele estiver chegando.
Caminho para sala principal, adoro pisar no chão gelado descalça, e no tapete peludo da sala, fico olhando a vista da cidade, é tão silencioso que me sinto surda quando olho para todo aquele movimento lá em baixo e não ouço nada.
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