Capítulo 1
- hendrica fernandes
- 4 de dez. de 2016
- 7 min de leitura

♥
O caminho de casa até a academia não é muito longo, mas eu sempre aproveito pra pegar uma carona com Trent e, consequentemente, passar mais algum tempo com ele. Ele dirige
serenamente, o que contrasta diretamente com seu temperamento explosivo, e a cada cinco minutos eu me pego o encarando. Difícil mesmo era não encará-lo. A forma como ele se
mantém focado no trânsito é fascinante. Cada pequeno detalhe dele é fascinante para mim. Eu podia passar horas e horas observando-o e no final eu ainda não estaria nem um pouco entediada.
Posso parecer uma idiota apaixonada, mas isso é exatamente o que eu sou e sempre fui.
Eu adoro esse cara com todas as minhas forças.
— Animado para a nova temporada? — indago curiosa enquanto encaro seu perfil perfeitamente esculpido.
Trent sempre fica elétrico durante as temporadas. É como se ele levasse uma descarga de adrenalina que nunca é totalmente desgastada, o que sempre termina com ele treinando até ficar exausto, e esse ciclo se repete por quatro longos meses.
— Sim... Paul disse que os fãs já estão se preparando desde agora e os patrocinadores estão dizendo que esse será a melhor temporada do Circuito. Até mesmo as apostas já começaram. — responde animado e inquieto.
— Então parece que o treino vai dobrar, certo? — pergunto vendo ele me olhar de rabo de olho.
— Eu já dobrei. — diz travando o maxilar.
Assinto com a cabeça e olho para a estrada. Assim que chegamos à academia poucos minutos depois, Trent estaciona o carro do lado do de papai. Pego minha mochila que está no banco traseiro e saio do carro. Trent me puxa pelo braço e entramos na academia nos empurrando e rindo.
— Finalmente! — Lucas exclama se metendo no meio de nós dois enquanto passa um braço por meu ombro e o outro pelo ombro de Trent.
— Bom dia, Lucas. — falo ainda rindo com o loiro.
Lucas é um dos caras da equipe de treinamento de Trent. Ele, Mike, Paul e Max o preparavam e sempre estavam lá quando as coisas saíam de controle, o que sempre acabava acontecendo.
— Bom dia? É um ótimo dia, Paris! — ele exclama nos soltando e parando em nossa frente. — Os patrocinadores ligaram para avisar e confirmar sobre a abertura do Circuito no final semana e a sua decoradora também ligou para avisar que a sua puta mansão estará pronta nas próximas semanas. — Lucas diz encarando Trent.
— Então parece que esse realmente é um bom dia. — resmungo cinicamente.
Vou até os outros caras para me aquecer enquanto observo Trent indo para a sala de papai acompanhado por Lucas. Saúdo Paul, Max e Mike com um "bom dia" e logo estamos conversando e rindo de uma piada sem graça que Mike contou.
Minutos mais tarde Trent e Lucas juntam-se a nós. Eu termino de me aquecer e vou direto para o saco de pancadas.
— Proteção, Parisa. — Trent diz alto o suficiente para eu escutar, o que me faz rolar os olhos.
Ele nunca me deixa treinar sem bandagem ou luvas e eu, às vezes, o agradecia mentalmente apenas pelo simples fato de que minhas mãos eram macias e não tinham calos. Lucas joga minhas luvas vermelhas da linha de Trent e eu as coloco sem demora, começando a socar o saco de pancadas.
No horário da tarde eu estava treinando com Mike de um lado do octógono, enquanto Lucas, Paul e Max desgastavam Trent do outro lado.
— Paris, Paris! — escuto papai gritar meu nome e paro de tentar golpear Mike imediatamente.
— O q-quê? — pergunto ofegante e enquanto viro para encará-lo.
— Sua irmã está vindo de Seattle! — exclama com um sorriso grande.
O quê? Mesmo?
Devolvo um sorriso igualmente largo.
— Sério pai? — pergunto ainda meio incrédula.
— Sim! Sua mãe ligou e me avisou. Ela disse que Pamella chegará as sete e que ligaria para você mais tarde. — diz.
— Oh, sim. Certo. — falo sentindo-me genuinamente animada.
Quando éramos pequenas, Pam era igual a mim, e claro, eu era igual a ela. Literalmente. Todos seus traços eram os meus traços e eu não sei o que vai nos diferenciar quando ela chegar. Na realidade, eu sei sim. Provavelmente apenas sua personalidade.
— Pode continuar com o seu treino. — papai diz ainda usando o mesmo tom animado. — Vamos fechar mais cedo para irmos buscá-la. — avisa por fim.
Aceno positivamente com a cabeça e ele começa a fazer seu caminho de volta para sua sala.
— Então você tem uma irmã gêmea, Paris? — Paul pergunta.
Virando meu rosto para encará-lo e percebo que todos estão parados me encarando fixamente. Exceto Trent, que está socando o saco de pancada copiosamente.
— Tenho. — falo simples, olhando-o meio suspeita.
Max, Mike e Lucas se entreolham com Paul e eu rolo os olhos porque sei que nada de bom
vai sair da boca deles.
— O que há? Vocês são tão fodidamente tarados. — rosno sentindo-me completamente sem paciência, o que acaba por fazê-los rir bem alto.
— Somos homens, oras. Bocetas nos excitam. — Mike diz cinicamente.
— Menos você, Paris. Você é uma de nós. — Lucas se mete no assunto e eu escuto Trent rir ainda sem parar de acertar o saco.
É o quê?
— Uma de vocês? Eu não gosto de bocetas! Bocetas não me excitam! — falo claramente irritada dessa vez. Eles levantam suas sobrancelhas e Trent para de socar o saco, virando pra me fitar e tomando um lugar ao lado deles. — Eu não sou lésbica, cacete! — exclamo simplesmente irada com o rumo da conversa.
Eles começam a rir e olho para Trent. Ele, pingando suor, quente como o maldito inferno, me fitando de volta sem desviar. Isso! Isso é exatamente o que me excita e não as estúpidas bocetas.
— E o que te excita, Paris? — Mike pergunta rindo com os outros.
Cínicos, babacas, idiotas! Fecho a cara, sentindo-me pronta pra pular no pescoço de um deles a qualquer momento.
— Tudo menos bocetas, babaca. — rosno entre dentes.
— Mmm... — Mike resmunga e abre um sorriso em seguida. — Eu te excito, Paris? — pergunta e os outros gargalharam bem alto.
Conto até dez mentalmente.
— Não. Você é um babaca sem cérebro, Mike, e caras burros não me excitam. — eu falo colocando um sorriso falso nos lábios.
Lucas, Paul e Max começam a rir mais alto enquanto as bochechas de Mike começam a ganhar um tom escarlate e ele ri sem graça, completamente desarmado. Trent continua me
encarando, mas agora sua cabeça está inclinada para o lado, enquanto ele parece entretido.
— Você não podia ter ficado sem essa! — Lucas diz para Mike.
Não consigo segurar o riso e acabo rindo com eles.
— Foda! É estranho falar de sexo com você. Você é um de nós, mas diferente de nós. — Mike resmunga emburrado.
— Realmente... Não quero imaginar você fazendo sexo. É como imaginar o Paul fazendo sexo. — Lucas fala e para olhando pro nada, como se estivesse refletindo sobre a ideia, e por fim faz uma careta de nojo.
Nem de longe eu pareço como uma garota para eles. Certo, talvez a culpa seja da minha escolha de roupas, sempre comprando dois números maiores, minhas camisetas masculinas da linha esportiva de Trent, meus tênis da Nike sem detalhes femininos, ou até mesmo meu cabelo nunca solto na frente deles... Eu nem sei como usar um salto alto! Eu posso não parecer como uma garota, mas eu definitivamente sou uma.
— Vão se foder todos vocês. — rosno ficando séria outra vez e mais irritada que antes.
— Olha a boca, Parisa. — Trent me repreende como sempre.
— O quê? Eu sou como um de vocês. — falo cínica.
— Eu nunca disse isso. — responde segurando seu olhar irritantemente forte e penetrante.
Viro de costas, ignorando-os totalmente e saio do octógono indo direto para o saco de pancadas outra vez.
Eu estou de saco cheio.
♥
Quatro horas eu decido parar de treinar e vou pegar minhas coisas para tomar meu banho. Respiro fundo enquanto lembro que os caras ficaram me irritando ainda por horas e horas.
Santa merda, eles são verdadeiros babacas. Indo para o banheiro feminino, eu tomo meu banho e em seguida visto meu melhor jeans, que consequentemente é o pior. Pego uma camiseta verde folgada pra acompanhar e calço minhas sandálias de casa. Penteio meu cabelo e o prendo novamente, guardando todas as minhas coisas e saindo do banheiro com minha mochila nas costas.
Fico esperando por algum tempo sentada, ora olhando Trent treinar e ora olhando meu celular. As horas correm e logo é seis e meia, e Trent ainda não terminou de treinar. Vejo papai ir falar com ele e entregar-lhe um molho de chaves, que provavelmente é o da academia, o que significa que Trent vai treinar mais um pouco e vai fechar as coisas para o papai.
Levanto-me e papai vem ao meu encontro. Ele me abraça e saímos juntos da academia, indo direto para o seu carro. Tomamos logo nosso caminho para o aeroporto, já que Pamella vai chegar dentro de meia hora.
Durante todo o caminho papai continuou falando e falando sobre coisas aleatórias. Ele está tão animado que até cantarolou um pouco, o que me fez rir porque ele nunca cantarola.
Sim, eu também estou animada, afinal é a minha irmã gêmea, mas consigo conter-me mais que o papai.
Chegamos ao aeroporto e encarando o portão de desembarque juntos.
Dez minutos mais tarde, finalmente avistamos a minha cópia. E estou realmente querendo dizer isso. Pamella Elizabeth Cohen é minha cópia fiel, só que melhorada.
Com um sorriso aberto em seus lábios pintados de vermelho, ela caminha em nossa direção enquanto arrasta sua mala. Deus! Ela é o oposto de tudo que eu sou, e mesmo de longe eu já percebia isso. Sua saia é curta, sua camiseta é colada e o seu salto é alto. Se
aproximando mais e mais de nós, vejo que ela tem um corpo de dar inveja em qualquer uma e seus cabelos soltos voam de forma que eu quase paro de encará-la só pra checar ao meu lado e ter certeza de que eu não estou em um maldito comercial de shampoo.
Papai não aguentou e foi ao seu encontro. Consigo vê-lo tirar Pamella do chão em um abraço de urso.
Finalmente em minha frente eu consigo notar algo que esqueci e que é uma de nossas únicas diferenças. Como diabos eu me esqueci disso? Os olhos de Pamella são castanhos claro, quase verdes, diferentemente dos meus olhos que são azuis.
Sorrindo mais largamente que antes, eu tenho que piscar uma, duas, três vezes. Uau. Ela é mesmo muito bonita.
— Eu senti sua falta, cópia. — brinca e eu rolo os olhos, mas acabo rindo.
Ela me puxa para um abraço forte que eu correspondo na mesma intensidade. Outro fato notável agora é que ela é mais alta que eu pelo menos uns cinco ou seis centímetros.
— Eu senti a sua falta, cola. — jogo de volta e ela ri alto, se afastando e beijando minha bochecha.
— Minhas garotas. — papai diz nos abraçando e nós três rimos.
Talvez tê-la aqui não vai ser um problema. Afinal, o que diabos pode acontecer de tão ruim? É a minha irmã gêmea e não um bicho de sete cabeças pronto pra me atacar ou algo do tipo.
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