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Furor

Epitlogo

Mais um dia começa para mim enquanto eu desperto lentamente. Bocejo como sempre faço todas as manhãs e sento-me na minha cama macia, sentindo meu corpo bem mais leve e completamente renovado depois da minha boa noite de sono. O treino pesado ontem à tarde sugou toda minha energia, mas já me sinto bastante pronta para o que o dia me reserva hoje.

Levanto da minha cama e pego minha toalha azul, indo direto para o banheiro tomar meu banho e fazer minha higiene matinal completa. Assim que eu termino de fazer tudo isso, não muito tempo depois, volto para o meu quarto e começo a procurar uma das minhas roupas preferidas de treino.

Pego minha calça da Nike folgada, top branco e camiseta grande do papai. Calço meu tênis branco, que também é da Nike, e faço o meu fiel rabo de cavalo, assim terminando de me arrumar. Agarro minha mochila e desço, mas não antes de pegar meu celular.

Passando pelo espelho da sala de estar, decido parar e dar uma olhada na minha aparência, observando-me atentamente pela primeira vez em muito tempo. Eu estou no auge dos meus vinte anos, mas ainda pareço ter quinze.

Deixo minha mochila em cima da mesa e ajusto a calça folgada em meu corpo. Eu, de fato, não sou alta. Com meus um e sessenta e dois metros de altura, não esbanjo longas pernas, mas elas são bastante torneadas e grossas. Meu corpo é definido, mas quase ninguém nota esse detalhe – não que eu ligue, de qualquer forma. Eu escondo minha bunda consideravelmente grande com minhas roupas folgadas demais, o que é resultado da minha escolha em comprar sempre dois números maiores que meu real tamanho, e o mesmo acontecem com meu quadril largo e minha cintura fina e estreita, que passam bastante despercebidos.

Passando minhas mãos por cima da camiseta, sinto minha barriga que é praticamente nula por causa dos meus treinos diários na academia do meu pai, e embora todo esse treinamento, eu não tenho músculos salientes, apenas um corpo bem delineado. Inclinando minha cabeça para o lado enquanto continuo a me analisar, constato uma velha notícia: meus seios não são nem um pouco grandes, mas eu não os odeio, na verdade, eu acho que eles têm o tamanho perfeito.

Meu cabelo é totalmente preto e liso, e meus olhos completamente azuis, assim como os do papai. Meu nariz era pequeno, fino e empinado, e minha boca carnuda e avermelhada, assim como lembro que era a mamãe.

Todos esses atributos são ignorados por mim e por todo mundo. Ninguém nunca me notou e eu nunca fiz questão em ser notada por qualquer pessoa.

Exceto por meu melhor amigo.

Balanço a cabeça para esquecer esse assunto e vou pra cozinha para preparar o café-da manhã. Desde que meus pais se separam, eu passei a morar sozinha com o papai e, quanto tive idade o suficiente para cozinhar, eu sempre tentei fazer o meu melhor. Até os meus doze anos, eu e o papai, que era uma negação total cozinhando, comíamos apenas cereal com leite como primeira refeição do dia. Nessa idade, eu mal sabia esquentar uma caneca de leite da maneira certa, mas depois eu fui pesquisando e aprendendo, até que pudesse fazer o café-da-manhã de atleta que precisávamos para começar o dia com pé direito.

— Bom dia, querida. — a voz rouca e áspera do meu melhor amigo me pega de surpresa. Segurando meu quadril e ficando atrás de mim, ele planta um beijo em minha orelha.

Meu corpo esquenta instantaneamente e uma onda de calor se instala em meu estômago. Era sempre a mesma coisa. Esse é o efeito que Trent Elliot Wayne, mais conhecido por todos como Furor, causa em mim. Meu melhor amigo, lutador, perigosamente quente e o meu primeiro e único amor até hoje.

Ele sempre chega nesse horário todos os dias para o café-da-manhã, e nem precisa tocar a campainha já que tem a chave daqui por motivos que ficam apenas entre ele e o papai.

 

Trent. — o cumprimento e a minha voz soa mais frágil que o esperado.

O que posso fazer? Está cedo e ele já chega aqui, sugando toda minha sanidade mental enquanto segura meu quadril por trás de mim.

— O que temos hoje? — indaga soltando meu corpo e se afastando de mim.

Mesmo com tantos empregados ao seu dispor, ele sempre aparece para tomar o café-da manhã conosco. Ele mesmo fala que eu faço as melhores panquecas de toda New York, e nem mesmo Roxy, sua cozinheira e nutricionista, faz melhores que as minhas.

— Que tal você escolher? — pergunto esboçando um sorriso fraco.

— Panquecas com grãos integrais e vitamina de frutas vermelhas? — pergunta animado, mas polido.

Trent sendo Trent.

— Bom então você terá isso. — falo ainda sorrindo, e me viro para fitá-lo pela primeira vez naquela manhã.

Ele está sentado em uma das cadeiras giratórias em frente ao balcão com um sorriso preguiçoso deslizando pelos lábios especialmente para mim, e esse sorriso faz com que estúpidas borboletas voem por minha barriga, esbarrando em minhas paredes internas com força. Deixo que meus olhos deslizem dos seus olhos azuis tempestuosos e desçam para ver o que ele está usando hoje. Ele parece bem confortável vestindo uma camiseta preta que agarra seus bíceps e tríceps com força, e sem falar em seu jeans escuro que está muito bem colocado em seus quadris estreitos e duros.

Subindo meus olhos para continuar com a minha inspeção minuciosa, eu encontro seu cabelo liso de um loiro escuro quase sujo, completamente bagunçado de sua forma usual. Qualquer mulher com o mínimo senso de beleza tem uma queda de mil andares por Trent, e mesmo ele não desconfiando, eu também tenho uma... Uma velha e boa queda.

— Perdeu alguma coisa em mim, querida? — pergunta com sua voz bastante divertida, que me desperta dos meus devaneios.

De repente noto o que eu realmente estava fazendo. Merda, Parisa! Todo o sangue do meu corpo sobe em cerca de segundos para as minhas bochechas e eu viro o rosto para fora do seu campo de visão.

— Não enche. — resmungo, ouvindo-o rir de mim.

Pego as frutas que vou usar na vitamina e começo a fazer o café-da-manhã calada. Alguns minutos mais tarde, quando estou terminando de preparar tudo, papai aparece na cozinha.

Furor. — papai saúda Trent.

— Velho. — o outro responde como sempre.

Eles adoram se irritar e isso quase sempre acabava entre tapas e socos que eu quase sempre tinha que me meter no meio para separá-los. Entretanto, eu sei que eles nunca se machucariam de verdade, mas a ideia de Trent batendo no papai e vice-versa, é assustadora para mim.

— Bom dia, querida. — papai diz beijando minha testa.

E então eis o motivo pelo qual Trent me chama de querida. Eu o conheço desde quando tinha sete anos e o papai sempre me tratou dessa forma, me chamando de querida, e como Trent sempre aparecia aqui em casa todas as manhãs desde seus doze anos, ele também começou a me chamar dessa forma.

— Bom dia, papai. — digo e deposito um beijo em sua bochecha.

Volto até o liquidificador e o desligo. Pego dois grandes copos de vidro para os dois homens e caminho até eles. Trent está sentado com papai, os dois, lado a lado. Encho um copo pra cada com aquela vitamina e entrego para eles, fazendo o mesmo com as panquecas, servindo-os com duas para cada, e deixo apenas uma para mim. Pego meu copo pequeno e despejo um pouco de vitamina dentro e paro para encarar os dois que estão sentados na minha frente, devorando as panquecas em seus pratos.

— Está bom? — pergunto me sentando e começando a comer calmamente minha única panqueca.

— Bom, bom, bom. — grunhem primitivamente em sincronia e se entreolham.

Seguro o riso porque era exatamente isso que eu estava esperando.

— E aí, velho, quando vai arranjar uma mulher? — Trent pergunta, enquanto coloca um pedaço de panqueca na boca.

Provocações.

E que os jogos comecem.

— Quando você parar de se enfiar em qualquer buraco com cheiro de mulher. — papai atira a verdade para Trent com um rosnado, o que faz o loiro gargalhar.

Esse é um fato incontestável sobre Trent. Ele pega todas as mulheres que dão brecha pra ele, e seu status de campeão invicto do Circuito, aliado com o grande fator beleza, é o que faz com que as mulheres se abram como verdadeiras portas de shopping só dele chegar perto.

Brincadeiras a parte, elas realmente se jogam em cima dele.

Elas que me procuram, velho. Você sabe como elas são boas para nos manter relaxados antes e depois de uma luta. — Trent diz cinicamente e eu rolo os olhos discretamente, voltando a olhar para minha panqueca. — Não tenho culpa se sou muito bom de olhar e elas adoram isso.

Realmente muito bom de olhar.

— Foda-se você, garoto. A única certeza que eu tenho é que você nunca vai tocar em minhas filhas. — papai diz claramente zangado, enquanto seus dentes trincam.

— Você sabe que não fez um trabalho ruim, certo? Parisa é bonita e ela tem uma gêmea. — Trent diz e eu subo meus olhos imediatamente para ele.

Engulo a seco o pedaço de panqueca que estava na minha boca e pego o copo com minha vitamina, tomando um gole em seguida.

É o quê? Ele me acha bonita? Ninguém olha para mim, cacete! Eu sou a mulher-macho para ele e nossos amigos, certo? Certo. Sempre foi assim e isso provavelmente nunca vai mudar.

— Nem mais um maldito pio, Furor. Elas não são para você e sua sujeira. — papai avisa cerrando os punhos em cima da mesa.

No momento eu quero pedir para o papai calar a boca e acenar para Trent continuar falando sobre o que ele acha de mim, mas eu mordo minha língua e mantenho a boca fechada.

Encaro Trent e percebo que ele já está me fitando com seus olhos azuis nebulosos. Um sorriso escorre por seus lábios e ele pisca para mim.

— Sim, sim, velho. Eu sei que Parisa é realmente muito boa para eu foder com tudo, mas eu não conheço a outra garota. Como ela se chama? — indaga voltando a olhar para papai e eu travo.

Diabos, o quê? Então ele nunca me daria qualquer chance, mas daria a minha irmã, que ele nem mesmo conhece? Filho de uma...

— Pamella. — papai responde contragosto.

— E ela é realmente igual à Parisa? — porque ele simplesmente não cala a boca?

— Esse assunto está encerrado, caralho. — papai esbraveja batendo com os punhos na mesa enquanto coloca um fim naquela maldita conversa.

O dia mal começou e Trent me vem com uma dessas. Deus me ajude!

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